quarta-feira, 4 de julho de 2012

Pedro, o profeta da descrença

Pedro era uma criança comum, de uma família tradicional. Foi batizado, fez crisma e primeira comunhão. O padre, amigo da família, chegou a sugerir que possuía vocação eclesiástica. Mas Pedro cresceu e é um homem ocupado hoje em dia. Como todo bom popular, acorda cedo, anda de ônibus e trabalha mais para pagar as contas do que para se dignificar. Pedro não vai mais à missa no domingo, não se confessa e nem pede mais a benção aos progenitores. Aos olhos do pai - e do padre - é um degenerado. Ele, por sua vez, apenas acredita que não tem mais tempo para acreditar.

Mas, num dies dominicus qualquer, Pedro teve sua apoteose. Vinha sonambulando ao balanço do coletivo, após uma semana de provações maiores do que as costumeiras, quando um senhor subiu à bordo, pedindo dinheiro para a caridade. Ao ouvi-lo dizer as palavras "que Deus toque seu coração", Pedro sentiu um calor no peito, uma ânsia sobre-humana, uma comoção tremenda. Só teve tempo de pedir perdão antes de soltar um urro de dor e cair desacordado.

No fim das contas era apenas um infarto, mas pelo menos Pedro morreu crente.

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