sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Véu de mármore

Rolo na cama, o sono perco
já faz quase uma semana que não me deixas dormir
me pego a imaginar frequentemente
que divindade achou por bem prender uma alma pura de donzela
no corpo devasso de uma concubina
apenas para se deleitar com a insanidade masculina.

Parece-me impossível aferir
se é por propósito ou por acaso que ages assim
mantendo os rapazes perto o suficiente para se embebedar em seu mistério
e longe o bastante para que o mesmo não se perca.
É como se ocultasse a si própria num véu intransponível
de sonho e dúvida, de ardência e insegurança.

Estás, sem nem ter feito por onde, nas bocas sujas do povo
Ouço-os, imprudentes e excitados, a te possuir com a mente
E mesmo sabendo que faço as mesmas coisas
Sinto ciúmes, me enojo, penso em cometer atrocidades
Aquelas cabeças profanas, oficinas do demônio
não merecem um segundo de tua complexa figura.

Ah! Como maldigo minha sorte!
Logo eu, até então auto-vangloriado desvendador
dos mistérios que rondam a existência feminina
Tive que te ver cruzar o meu caminho, como quem nada quer
e agora sou apenas mais um, falando de ti para ninguém
sou apenas mais um homem rendido aos teus pés.

2 comentários:

  1. Magnífico, especialmente a primeira estrofe, possuidora de uma raríssima beleza que logrou unir cotidiano banal e capricho mitológico na mais perfeita harmonia.

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